Cassagemas

Cassagemas
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Era para ser apenas mais um dos passeios com a cachorrinha, quando um perfume adocicado o atingiu em cheio. Não lembrava de ter visto algum pé de Jasmim nas ruas do seu bairro. O perfume ficava cada vez mais forte. Ele seguiu caminhando até que o encontrou. O perfume da flor o lembrava final de ano, Natal, festas, mas naquele momento, a lembrança era outra. Já se passavam treze anos desde que o seu gato havia partido. Ele até havia escrito um texto sobre a sua despedida. O último perfume, que ocupou a casa, foi de um jasmim recebido por uma amiga. Todas as lembranças vieram na sequência. Treze anos de amor, de brincadeiras, de cumplicidade. Treze anos daquele gato manhoso que mais parecia um cachorro. A partir daquele dia, o perfume do jasmim assumia outro sentido. Era o jasmim do Cassa, apelido do felino.
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Foram oito anos prometendo que não teria mais um animalzinho. A dor da despedida tinha sido muito forte, mas a vida seguiu até que o encontro com a cachorrinha o arrebatou. Lembrou de todos os dezesseis anos com o gato e agora, olhando para o pé de jasmim, tudo era doce e leve. O tempo cura tudo.
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Olhou para a cachorrinha que espichava o nariz para a pequena árvore florida e adocicada. Era muito provável que ela fosse a sua última companheira de quatro patas e desejou que ela vivesse o maior tempo possível. Quem sabe até mais do que os dezesseis anos de alegrias que aproveitou com o seu gato.
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Nada disso importava. Respirou fundo. O perfume o preencheu. Olhou para a cachorrinha e disse: essa flor é um Jasmim e era a flor do Cassagemas, o gato que parecia um cachorro. Tu ia gostar dele também.
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Estavam os três ali.
Sentir tudo aquilo era mágico.
Algumas coisas são inexplicáveis.
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