Intervenção Urbana nas estações e trens do Trensurb
Porto Alegre/RS – 2001/2002
O Projeto foi contemplado com a bolsa-estímulo no II Prêmio Sérgio Motta, 2001. A execução do projeto Cotidiano, aconteceu entre os dias 23 e 28 de fevereiro de 2002
A cidade de Porto Alegre possui um sistema de transportes de trens urbanos de superfície – o TRENSURB, que transporta uma média de 140.000 passageiros nos dias úteis, beneficiando usuários de toda a Região Metropolitana. O sistema possui uma perfeita integração com as linhas de ônibus já existentes facilitando o transporte e locomoção desse grande número de usuários.
O Projeto “Cotidiano”, foi elaborado especialmente para esse espaço. O objetivo é realizar intervenções nas 17 estações que formam o TRENSURB, bem como no interior do vagões, através de adesivos em Plotter, reproduzindo o dia-a-dia dos usuários. Modificar esse ambiente através de cenas repetidas diariamente, com a intenção de provocar um diálogo com o público que utiliza esse meio de transporte, possibilitando uma reflexão, um exercício do olhar e a percepção desse lugar.
Em dezembro de 2002, o projeto virou Livro, com 54 imagens, edição bilíngue (português-inglês). Texto de Blanca Brites, Doutora em História da Arte. Realização : Trensurb, Ministério dos Transportes e Governo Federal.
Trecho do texto de Blanca Brites para o livro :
“Desde as últimas décadas do século XX, as intervenções em espaços urbanos não apenas têm acompanhado, como também interferido em mudanças conceituais que motivaram relações mais diretas entre a obra e o público.
É com esta intenção que muitos artistas se dirigem a esses espaços, seja na cidade ou no metrô. Necessário destacar novamente que a arte no espaço urbano considera, além dos condicionantes materiais e físicos do entorno, a memória, a história e a vida já existentes neste espaço. E Leandro Selister percebeu, com Cotidiano, que o envolvimento é possível. Mais: ele alcançou isso, possibilitando que os reais usuários do espaço participassem mesmo sem dar seu consentimento. De sua parte, o artista também se diz envolvido e seduzido pelas reações constatadas durante a execução do projeto e que, de certa maneira, permanecem até hoje.
Toda a intervenção artística no espaço público traz uma dose de imposição, pois se faz, muitas vezes, em lugares inesperados e sem pedir licença aos que com ela partilham da mesma trama urbana, tanto material quanto conceitual. E, como sabemos, a arte no espaço público, que se impõe aos passantes, não é, obrigatoriamente, aceita pelos mesmos. Exemplos deste tipo de impasse, inclusive envolvendo artistas renomados, já se tornaram paradigmáticos na história da arte contemporânea. A não aceitação, por parte do público, é evidenciada pela indiferença imposta à obra, tornando-a invisível, nula, sem efeito, como se a mesma não existisse. As intervenções de Leandro Selister se afirmam, justamente, ao procurar estabelecer uma convivência amigável com seus companheiros de viagem. Por esta razão destacamos a receptividade dos transeuntes para com a proposta Cotidiano, uma vez que é o próprio público que a motivou e que a faz existir.
O projeto Cotidiano – nas intervenções – provocou o olhar descobridor dos passageiros, e aqui, neste livro, talvez todos possam encontrar indicativos de porque essas imagens permanecerão percorrendo outros olhares e outros tempos.”