trinta e seis
Exposição realizada na Calafia Art Store
Porto Alegre no período de 26/03 a 13/04/2019
O ativismo afetivo de Leandro Selister
Cáu Paranhos *
Um convite a olhar para a poesia da vida é a característica mais forte e adorável do trabalho deste artista, para quem o ato de VER, somente, não basta. É preciso ver com olhos de poeta. Fazer amor com os olhos, o que fica claro nos adesivos AME (2015/2016), que ele espalha como uma ordem de amor.
Conheci o trabalho de Leandro Selister através de sombras de figuras humanas, em tamanho natural, adesivadas estrategicamente em espaços públicos na cidade de Porto Alegre (2001). Imagens que provocavam a percepção de nossa existência anônima no meio urbano e chamavam nosso olhar para locais por onde passávamos desatentos. Ao longo dos anos seguintes, suas numerosas produções vão desde intervenções fotográficas que simulam flores transbordando pelas janelas do prédio histórico do StudioClio (2008/2009), até uma imensa fotografia do nosso “Rio” Guaíba adesivada no chão de um andar inteiro da Casa de Cultura Mario Quintana (2018), causando a sensação de andarmos sobre as águas.
Apaixonado por poetizar o cotidiano, transforma Porto Alegre em desenhos na forma de postais (2016) e objetos (2017), série colecionáveis, e nos obriga, assim, a levá-la para nossas casas, para tê-la nas mãos, nas estantes, nas paredes, nos induz a amá-la.
Com a sensibilidade de quem sabe que a poesia não está isenta de dor, apresenta a instalação fotográfica Tristicidade (Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre, 2018). Revelando o lado melancólico de Porto Alegre, ele arranca lágrimas dos mesmos olhos aos quais instiga poesia.
Neste ativismo afetivo, como uma metáfora da vida, o artista nos mostra que, apesar de tudo, a nossa Porto Alegre, adotada por ele há 36 anos, resiste, RE-existe, e ele mesmo se reinventa. Desacelera o seu fazer, reconstrói (re-costura) o próprio tempo. Descobre o bordado e, como quem faz carinho com a ponta dos dedos em cada pedacinho da cidade, fura ponto a ponto, a agulha no pano, vez que outra no dedo, sangra a paisagem, borda Porto Alegre. Devolve-nos ao aconchego, à ancestralidade, à delicadeza. Ao descansar o bordado no colo enquanto trabalha, aninha e abriga a nossa pequena grande metrópole e nos reafirma: Porto Alegre é nosso Lar, Doce Lar.
* Cláu Paranhos é artista, arte (des)educadora, agente cultural e pesquisadora na área de Artes Visuais. Doutoranda em Educação, Mestre, Licenciada e Bacharel em Artes Visuais (UFPel/UFRGS). Desde 2003, participa de exposições e ações artísticas individuais e coletivas. Desenvolve Oficinas de Artes Visuais desde 2005. Representante das Artes Visuais no Conselho Municipal de Cultura na cidade de Pelotas, RS. Presidente da Associação de Amigos do Museu Julio de Castilhos e Vice-presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa em porto Alegre,RS.